As novas terras das cidades
Economistas, arquitetos e
geógrafos querem ajudar na gestão de municípios do Pará
CARLOS FIORAVANTI | ED. 204 |
FEVEREIRO 2013
Fogo à vista: motoqueiros atravessam a rodovia
PA-239 coberta por fumaça de incêndios em pastos na região de São Félix do
Xingu, em agosto de 2010
De Belém – Em 2010,
professores e estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA) ajudaram os
moradores da ilha de Murutucum, próxima a Belém, a voltar a produzir bolsas,
mochilas e calçados impermeabilizados com o látex de seringueiras que não eram
exploradas há mais de um século. Professores e pesquisadores da UFPA estão
agora olhando mais longe, desta vez com o propósito de mapear, entender e
ajudar a gerir as cidades de um Estado com uma área quase três vezes maior que
a da França.
“Queremos auxiliar os municípios
a resolver problemas e a construir seus planos de ação”, disse Fábio Carlos da
Silva, diretor adjunto do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea) e
secretário executivo da Incubadora de Políticas Públicas da Amazônia (Ippa),
que reúne universidades, órgãos do governo, organizações não governamentais e
empresas de nove estados da Amazônia. Uma das ações previstas para este ano são
cursos de administração pública para prefeitos e vereadores.
“Não conhecíamos quase nada do
interior do Pará”, observou a arquiteta Ana Claudia Duarte Cardoso,
pesquisadora da UFPA e do Instituto Tecnológico Vale (ITV). Em 2004, pouco
depois de voltar do doutorado na Inglaterra, ela participou de um grupo de
pesquisadores que percorreu 14 cidades do Estado para ajudar na elaboração do
plano diretor, que seria exigido a partir de 2006 para municípios com 20 mil
habitantes. “Vimos que o problema era mais profundo”, ela constatou. “Muitos
municípios não conseguiam fazer os planos diretores porque não tinham
informação sobre seu território, nem diagnósticos de suas necessidades e
potencialidades, nem cartografia.”
Em julho de 2012, Ana Claudia
voltou à região de Marabá, agora como uma das coordenadoras do Urbis Amazônia,
um projeto de pesquisa implantado em 2011 com um financiamento de R$ 2,3
milhões do ITV de Belém e da Fundação Vale para se conhecer melhor os processos
de formação e evolução do espaço urbano na Amazônia. Arquitetos, urbanistas,
economistas e geógrafos do Pará, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo
pretendem identificar tensões e contribuir para a formulação de políticas
públicas em três regiões do estado (ver mapa).
“Estamos construindo uma
cartografia do espaço urbano da Amazônia”, afirmou Antonio Miguel Monteiro,
pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordenador
do Urbis. “Não é uma cartografia tradicional, porque reflete as relações
sociais, espaciais e culturais entre lugares, não apenas as posições dos
lugares.” Na primeira expedição, de 4 a 15 de junho de 2012, 10 pesquisadores
visitaram 58 comunidades ribeirinhas do município de Santarém, ao longo do rio
Tapajós. São comunidades pequenas, com 50 a 100 famílias cada uma, mas “em
conjunto funcionam como se fossem uma cidade, complementando funções ou
serviços”, observou Monteiro. O posto de saúde pode ficar em uma comunidade e a
escola em outra, e todas as famílias os usam. “Pretendemos dar visibilidade a
esses núcleos e às formas como se organizam entre eles e com outros espaços,
para que sejam de fato considerados no planejamento regional.”
Em outra expedição, de 19 de
julho a 5 de agosto, nove pesquisadores percorreram as cidades do sudeste do
Pará (Urbis-1) e entrevistavam moradores, empresários, secretários municipais e
diretores de organizações não governamentais. Viram núcleos urbanos que não
estavam nos mapas e fenômenos inesperados, como cidades que nascem grandes e
espalhadas, com milhares de moradores atraídos pelos empregos gerados por
empresas mineradoras ou agropecuárias. Muitas cidades estão subordinadas à
atividade rural, invertendo a hierarquia habitual.
CONTINUA
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