sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Pará: sudeste abandonado



As novas terras das cidades
Economistas, arquitetos e geógrafos querem ajudar na gestão de municípios do Pará
CARLOS FIORAVANTI | ED. 204 | FEVEREIRO 2013




 Fogo à vista: motoqueiros atravessam a rodovia PA-239 coberta por fumaça de incêndios em pastos na região de São Félix do Xingu, em agosto de 2010


De Belém – Em 2010, professores e estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA) ajudaram os moradores da ilha de Murutucum, próxima a Belém, a voltar a produzir bolsas, mochilas e calçados impermeabilizados com o látex de seringueiras que não eram exploradas há mais de um século. Professores e pesquisadores da UFPA estão agora olhando mais longe, desta vez com o propósito de mapear, entender e ajudar a gerir as cidades de um Estado com uma área quase três vezes maior que a da França.

“Queremos auxiliar os municípios a resolver problemas e a construir seus planos de ação”, disse Fábio Carlos da Silva, diretor adjunto do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea) e secretário executivo da Incubadora de Políticas Públicas da Amazônia (Ippa), que reúne universidades, órgãos do governo, organizações não governamentais e empresas de nove estados da Amazônia. Uma das ações previstas para este ano são cursos de administração pública para prefeitos e vereadores.

“Não conhecíamos quase nada do interior do Pará”, observou a arquiteta Ana Claudia Duarte Cardoso, pesquisadora da UFPA e do Instituto Tecnológico Vale (ITV). Em 2004, pouco depois de voltar do doutorado na Inglaterra, ela participou de um grupo de pesquisadores que percorreu 14 cidades do Estado para ajudar na elaboração do plano diretor, que seria exigido a partir de 2006 para municípios com 20 mil habitantes. “Vimos que o problema era mais profundo”, ela constatou. “Muitos municípios não conseguiam fazer os planos diretores porque não tinham informação sobre seu território, nem diagnósticos de suas necessidades e potencialidades, nem cartografia.”
Em julho de 2012, Ana Claudia voltou à região de Marabá, agora como uma das coordenadoras do Urbis Amazônia, um projeto de pesquisa implantado em 2011 com um financiamento de R$ 2,3 milhões do ITV de Belém e da Fundação Vale para se conhecer melhor os processos de formação e evolução do espaço urbano na Amazônia. Arquitetos, urbanistas, economistas e geógrafos do Pará, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo pretendem identificar tensões e contribuir para a formulação de políticas públicas em três regiões do estado (ver mapa).


“Estamos construindo uma cartografia do espaço urbano da Amazônia”, afirmou Antonio Miguel Monteiro, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordenador do Urbis. “Não é uma cartografia tradicional, porque reflete as relações sociais, espaciais e culturais entre lugares, não apenas as posições dos lugares.” Na primeira expedição, de 4 a 15 de junho de 2012, 10 pesquisadores visitaram 58 comunidades ribeirinhas do município de Santarém, ao longo do rio Tapajós. São comunidades pequenas, com 50 a 100 famílias cada uma, mas “em conjunto funcionam como se fossem uma cidade, complementando funções ou serviços”, observou Monteiro. O posto de saúde pode ficar em uma comunidade e a escola em outra, e todas as famílias os usam. “Pretendemos dar visibilidade a esses núcleos e às formas como se organizam entre eles e com outros espaços, para que sejam de fato considerados no planejamento regional.”

Em outra expedição, de 19 de julho a 5 de agosto, nove pesquisadores percorreram as cidades do sudeste do Pará (Urbis-1) e entrevistavam moradores, empresários, secretários municipais e diretores de organizações não governamentais. Viram núcleos urbanos que não estavam nos mapas e fenômenos inesperados, como cidades que nascem grandes e espalhadas, com milhares de moradores atraídos pelos empregos gerados por empresas mineradoras ou agropecuárias. Muitas cidades estão subordinadas à atividade rural, invertendo a hierarquia habitual.
CONTINUA

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